Fundado por Edmundo Bittencourt, em 15 de junho de 1901, o Correio da Manhã permaneceu sob direção de membros da sua família até 1969, quando foi arrendado por Maurício Nunes de Alencar parar fechar as portas em 8 de julho de 1974.
Era um jornal carioca que todo o Brasil lia. Durante a maior parte da sua jornada, atuou de forma independente, legalista e oposicionista em diversos momentos em que ser oposição custava muito caro.
Declarando-se isento de qualquer tipo de compromisso partidário, o Correio da Manhã apresentou-se como o defensor “da causa da justiça, da lavoura e do comércio, isto é, do direito do povo, de seu bem-estar e de suas liberdades”.
O jornal não hesitou em romper com os governos da República Velha, voltando sua atenção para os problemas enfrentados por camadas menos privilegiadas da população, posicionando-se contra aumentos nas passagens de bonde e a vacina obrigatória, por exemplo.
Evaristo de Morais, um de seus colaboradores, chamava a atenção para a atuação de movimentos operários, e para a legislação draconiana existente no Brasil em relação a tais movimentos.
Admitia, contudo, colaboradores dos mais diversos espectros políticos, contanto que mantivessem seu ponto de vista crítico e independente, propondo-se a agir como uma frente organizada anti-situação.
Edmundo Bittencourt aposentou-se às vésperas do Movimento de 1930, passando o comando do periódico para seu filho, Paulo. Apoiou o nome de Vargas nas eleições de 1930 e, quando da derrubada de Washington Luiz, deixou claro que defendia formas constitucionais de governo e eleições verdadeiramente livres.
Censores instalaram-se nas redações a partir de novembro de 1937, com a instauração do Estado Novo. As críticas permaneceram nas páginas do jornal, mas de forma tão sutil que poucos percebiam.
No período democrático entre 1945 e 1964, o Correio manteve a defesa dos princípios liberais sem se alinhar com nenhum partido atuante, escolhendo antes as causas a defender.
Por exemplo, embora se posicionasse contra o monopólio estatal da exploração do petróleo, o jornal passou a defender a Petrobras ferrenhamente contra aquilo que chamavam de “usos políticos” da empresa.
Através de editoriais, o jornal foi um dos muitos órgãos de imprensa da época a incitar a queda de João Goulart, deposto no golpe de março de 1964.
O alinhamento com o novo governo, contudo, foi breve. O primeiro ato institucional de Castelo Branco indicou claramente que o golpe teria vida longa, ameaçando seriamente as liberdades democráticas (inclusive a liberdade de imprensa) sempre defendidas pelo jornal, que insinuou inclusive que o novo governo fazia vista grossa a práticas terroristas por parte dos seus próprios agentes.
Daí em diante, o jornal passou a denunciar ações de tortura, prisões arbitrárias e perseguições a políticos de oposição, o que lhe custou anunciantes públicos e privados.
Em dezembro de 1968 uma bomba explodiu na sua agência de anúncios classificados, em um edifício na avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro. Dias depois, já à sombra do AI-5, censores militares se instalaram na redação, submetendo-a (e a outros jornais país afora) a censura prévia.
Com a suspensão desta, e a saída dos militares das suas dependências, o Correio lançou uma edição relatando os abusos que não pudera noticiar nas semanas anteriores. A então diretora do jornal, Niomar Moniz Sodré Bittencourt, foi presa e levada para Bangu.
A pressão política e a asfixia financeira foram demais para o jornal, que acabou por pedir concordata em 1969. A triste história de como seus arrendatários deixaram-no morrer é curta, pois em 1974 seu patrimônio físico foi a leilão.
Adquirida em leilão e doada ao Arquivo Nacional, a documentação inclui recortes de jornal, filmes, caricaturas, plantas, mapas, cartazes, e – literalmente – milhões de fotografias.
Parte do acervo pode ser consultado no Arquivo Nacional.
Texto: Arquivo Nacional