Recentemente, a Agenda Bafafá Rio publicou a história de Marietta Baderna, com base no livro A origem curiosa das palavras, de autoria do jornalista Márcio Bueno, lançado em 2003.
Marietta foi uma bailarina italiana que, por seu talento excepcional e por sua postura comportamental, teve o sobrenome associado, no Brasil, a bagunça, confusão ou grupo de jovens alegres e barulhentos.
Resumindo, Marietta, ainda adolescente, fazia furor em palcos europeus, especialmente da Itália e da Inglaterra. Tornou-se Primeira Bailarina Absoluta do tradicional teatro Scala de Milão.
Era filha de Antônio Baderna, médico e revolucionário, que lutava pela unificação da Itália e contra a dominação do norte do país pelos austríacos. Mesmo jovenzinha, contribuía financeiramente com os revoltosos.
Com a derrota do movimento, em 1849, ela e o pai emigram para o Brasil. Ela começa a se apresentar no Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara e conquista uma legião de fanáticos admiradores. Terminados os espetáculos, os jovens saíam com ela pelas ruas do Rio em cortejos de carruagens, acordando a cidade.
A admiração cresce à medida que se descobre que ela era uma transgressora – vivia com um músico, o maestro Gioacchino Giannini, sem ser casada; enfrentava os empresários de teatro defendendo colegas menos consagrados; e passou a alternar a dança clássica com a dança dos escravos. Chegava a participar dessas danças africanas no Largo da Carioca.
Vivendo numa sociedade atrasada, escravagista, começou a ser perseguida. Um grande jornal da época, o Jornal do Commercio, desencadeou contra ela uma forte campanha moralista. Foi por essa época que seu sobrenome começou a ser usado pelos brasileiros com os sentidos descritos.
Na época em que o livro foi publicado, não havia pesquisas que indicassem o que ocorreu com ela depois que parou de dançar, se havia voltado para a Itália ou se tinha morrido no Brasil.
Hoje, já temos informações documentadas que jogam luz sobre a sua história, graças ao trabalho de pesquisa exaustivo e minucioso desenvolvido desde 2006 por uma de suas descendentes, a trineta Marília Giannini, residente em Curitiba.
Graças à pesquisa genealógica e histórica que desenvolve desde 2006, entre várias outras informações, sabemos hoje que Marietta nasceu em Piacenza, província da região de Emilia-Romagna. Seu nome de batismo era Franca Anna Maria Mattea Baderna.
No Brasil, teve três filhos com o maestro Giannini: Henriqueta Baderna Giannini, em 1856, Antônio Baderna Giannini, em 1858, e Francisca Fanny Baderna Giannini, em 1859. Talvez tenha sido a última geração da família, no Brasil, que manteve o sobrenome Baderna. As demais, preferiram o sobrenome Giannini, certamente pelo sentido depreciativo que baderna veio a adquirir.
Viúva desde 1860, quando encerrou a carreira de bailarina tornou-se professora de dança. Marietta morreu em 1892, aos 64 anos de idade, em sua residência, na rua General Severiano, 76, bairro de Botafogo. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
Por Márcio Bueno