Albert Einstein, autor da Teoria da Relatividade e Prêmio Nobel de Física, chegou ao Rio de Janeiro em um sábado de sol, após cruzar o Atlântico em 16 dias a bordo do navio Cap Polonio.
Com paletó surrado e sapatos sem meias, Einstein pisava pela primeira vez na América do Sul naquele distante 21 de março de 1925. Era uma estrela, "o maior gênio que a humanidade produziu depois de Newton", segundo manchete de "O Jornal".
Einstein, nascido na cidade de Ulm, na Alemanha, em 14 de março de 1879, deixou três filhos antes de falecer aos 76 anos, nos EUA, devido a um aneurisma. Ele ficou oito dias no Rio, de 4 a 12 de maio de 1925, e se hospedou na suíte 400 do Hotel Glória.
Na verdade foram nove dias, se considerado também o 21 de março, quando seu navio atracou na cidade antes de seguir para Buenos Aires. Foi tempo suficiente para Einstein visitar o Jardim Botânico.
O trajeto até a instituição causou frisson nas ruas, pois a comitiva que o acompanhava somava sete automóveis. Do presidente do parque, Pacheco Leão, ouviu explicações sobre as propriedades do jequitibá. Em seguida, o físico abraçou e beijou a árvore imensa. Em seu diário, anotou que "o Jardim Botânico e sua flora superam os sonhos das 1.001 noites.
Tudo vive e cresce a olhos vistos". No livro de assinaturas, escreveu em alemão: "A visita ao Jardim Botânico significa para mim um dos maiores acontecimentos que tive mediante impressões visuais (externas)". É algo valioso vindo de quem pensava por meio de imagens.
Com uma flor tropical na lapela do paletó, Einstein seguiu para o Copacabana Palace, onde almoçou com um numeroso grupo de cientistas e líderes da comunidade judaica — 14 pessoas no total. Entre os presentes estava Chateaubriand, dono dos Diários Associados, que morava no hotel e era um dos mais entusiasmados à mesa.
A comitiva chegou às 12h15m. Apesar do cansativo percurso de navio, era o primeiro dia de viagem e Einstein estava animado. "Discorria com uma vivacidade impressionante", escreveu Chatô, no dia seguinte, na primeira página de "O Jornal". Teria comido vatapá com pimenta.
Desceu do carro na Sete de Setembro, subiu a Rua do Ouvidor até a Gonçalves Dias, depois voltou ao automóvel, na Avenida Rio Branco. Antes de embarcar no Cap Polonio, segundo o relato de Chatô, foi reconhecido por um grupo de cearenses e recebeu "manifestações de um carinho efusivo".
Einstein fez um único amigo na curta estada: o austríaco Isidoro Kohn, líder da comunidade judaica na cidade. Trata-se do cicerone e tradutor do físico que o acompanhou por todos os lados. Foram ao Pão de Açúcar de bondinho, visitaram o Instituto Oswaldo Cruz, a Rádio Sociedade, a Academia de Ciências.
Tinham quase a mesma idade — com 46 anos, Einstein era dois anos mais moço. Dono de uma loja de roupas na Rua Gomes Freire, Kohn era conhecido por sua elegância. Convenceu o cientista a comprar um terno antes do encontro com o presidente da República, Artur Bernardes.
E lá foram os dois para a velha alfaiataria Ao Tombo do Rio, na Rua da Carioca, onde escolheram um modelo sóbrio da cor preta. Faltava uma gravata. Em sua residência, Kohn fez a oferta que, no futuro, alegraria as futuras gerações da família.
— Ele disse "professor, pegue uma das minhas gravatas". Em troca, Einstein tirou a que estava no pescoço, e ela continua até hoje com a nossa família — conta o engenheiro Milton Kohn, de 72 anos, sobrinho de Isidoro, na reportagem publicada em fevereiro de 2016.
Visitou ainda o Museu Nacional, Fundação Oswaldo Cruz, Observatório Nacional, Universidade do Brasil. Foi também recebido pelo presidente Arthur Bernardes, no Palácio do Catete e almoçou com cientistas e professores no Copacabana Palace.
Fonte: Acervo O Globo