Antes da evolução das máquinas fotográficas digitais, de celulares e tablets com alta resolução de imagem, era possível encontrar nas praças e nos jardins do Rio de Janeiro uma figura pitoresca conhecida como lambe-lambe.
Esses fotógrafos com nome curioso carregavam grandes câmeras em formato de caixote – também usadas como laboratório de revelação – e registravam passeios de família e produziam postais para turistas.
Apesar de terem surgido no final do século XIX, foi na década de 1950 que eles se popularizaram fazendo fotos para documentos cuja revelação instantânea atendia aos clientes que não podiam esperar as imagens ficarem prontas.
Com o passar dos anos, esses profissionais foram desaparecendo, se aposentando e perdendo espaço para as facilidades do mundo moderno. Porém, em 2005, a Prefeitura do Rio declarou o ofício dos lambe-lambes Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial. O objetivo é preservar a memória da cidade levando em consideração que eles testemunharam e documentaram para a posteridade a imagem de inúmeros personagens, conhecidos ou anônimos.
Origem do nome
O historiador de fotografia Boris Kossoy revelou, em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, em novembro de 1974, que a origem do nome é controvertida. A história mais contada é que “lambe-lambe” se refere a um teste feito para verificar de que lado ficava a emulsão de uma chapa, filme ou papel sensível.
Para evitar o erro de colocar a chapa de maneira errada – o que deixaria a imagem desfocada – costumava-se molhar com saliva a ponta do indicador e do polegar e fazer pressão com esses dois dedos sobre a superfície do material sensível. O lado que estivesse com a emulsão causaria uma sensação de "colagem" no dedo.
Para Kossoy, essa explicação parece pouco provável, pois o simples tato ou a observação da chapa em local escuro mostraria qual é o lado da película sensível.
“Há quem diga que se lambia a chapa para fixá-la, porém a origem mais viável parece estar ligada ainda ao antigo processo da ferrotipia, em que uma camada de asfalto era colocada sobre uma chapa de ferro de mais ou menos 1mm sobre a qual aplicava-se a emulsão. Após a revelação com sulfato de ferro, o fotógrafo lambia a chapa, fazendo com que a imagem se destacasse do fundo preto pela ação do cloreto de sódio existente na saliva”, explica.
Equipamentos
O ofício dos fotógrafos ambulantes sempre foi caracterizado pela informalidade da profissão. Os antigos lambe-lambes aprenderam, sozinhos, as técnicas de revelação e o uso da máquina-caixote. Não existiam escolas, nem cursos e muitos deles consertavam e produziam os próprios equipamentos de trabalho.
O fotógrafo e professor Elcio Macias de Mello, da Universidade Guarulhos, em São Paulo, conta no artigo “Fotógrafo lambe-lambe: o resgate de uma técnica” que o aparelho, no Brasil, foi fabricado apenas em São Paulo, pelo empresário Francisco Bernardi.
Ele procurou um modo de incorporar o laboratório à própria câmera para facilitar o trabalho ao ar livre. A família Bernardi produziu a invenção até 1937.
A caixa das câmeras servia comumente como uma vitrine do trabalho do artista. Diversas imagens de antigos clientes enfeitavam os lados do caixote de madeira e deixavam o equipamento com um toque ainda mais pessoal e inusitado. Por anos, essas figuras foram referência cultural na paisagem urbana carioca, em locais como o Largo do Machado, a Praça Saens Peña e o Jardim do Méier.
Alguns resistiram a partir do final do século XX, mas foram engolidos pela tecnologia. Ainda assim, em 2013 ainda podiam ser encontrados no Largo do Machado (ver galeria). Hoje, sumiram das praças!
Fonte: Carla Araújo/Multirio