A hipótese de que o Pão de Açúcar, um dos marcos naturais do Rio de Janeiro, tenha sido originalmente uma ilha, desafia nossa compreensão atual da geografia da cidade e oferece uma nova perspectiva sobre sua formação histórica.
Segundo essa teoria, o conjunto de morros que inclui o Pão de Açúcar, o Morro da Urca e o Morro Cara-de-Cão formava a ilha chamada Trindade, que estava separada do continente por uma faixa de água do Oceano Atlântico.
Essa separação teria sido evidente na maré alta, quando a água cobria a conexão natural entre o que hoje conhecemos como Praia Vermelha e o continente, isolando os morros e transformando-os em uma ilha.
Na maré baixa, o surgimento de faixas de areia como a própria Praia Vermelha poderia ter conectado temporariamente a ilha ao continente.
No entanto, foi apenas com o tempo, através de sucessivos aterros realizados ao longo dos séculos, que essa ilha teria se tornado parte integral do continente, como conhecemos hoje.
O historiador Milton Teixeira, renomado especialista na história do Rio de Janeiro, sustenta essa hipótese com base em mapas antigos, como um de 1624, que indicam que a região realmente era separada do continente.
Ele acredita que os aterros realizados na área onde hoje se encontra a Praça General Tibúrcio, no final do século XVII, foram fundamentais para anexar a ilha ao continente, modificando radicalmente a geografia da cidade. "O Rio de Janeiro começou numa ilha", afirma Teixeira.
A história sugere que a escolha da Urca, uma região então insular, como local de fundação da cidade, foi uma decisão estratégica.
Estar separada do continente dificultava ataques terrestres de inimigos como os tamoios e os franceses, proporcionando uma defesa natural para os primeiros colonos. Foi apenas no século XX, com o aterro da área para a criação do bairro da Urca, utilizando detritos do desmonte do Morro do Castelo, que a região ganhou a configuração que conhecemos hoje.
A hipótese do Pão de Açúcar como uma antiga ilha oferece um fascinante vislumbre sobre a evolução geográfica do Rio de Janeiro, sugerindo que o que vemos atualmente como uma característica natural do litoral carioca foi, na verdade, moldado por processos históricos e intervenções humanas ao longo dos séculos.
Essa teoria não só acrescenta uma camada intrigante à história do Rio, mas também nos faz refletir sobre como o ambiente natural e a ação humana se entrelaçam na construção das cidades.