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  • Madame Satã, o malandro mais temido da Lapa, foi trocado na infância por uma égua

    Da Redação em 22 de Maio de 2022    Informar erro
    Madame Satã, o malandro mais temido da Lapa, foi trocado na infância por uma égua
    Local: Madame Satã
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    Nascido em 1900, no interior de Pernambuco, João Francisco dos Santos, que ficou famoso com o apelido de Madame Satã, é filho de Manoel Francisco dos Santos e Firmina Teresa da Conceição, ambos descendentes de africanos escravizados.
     
    Apesar das condições de vida adversas, a família – formada por mãe, pai e dezoito filhos – viveu bem durante alguns anos. Em 1907, o pai de João Francisco morreu, deixando a família em uma situação precária. Frente a esse cenário, Firmina Teresa, mãe do menino, decidiu trocar João por uma égua.
     
    A troca foi feita e Laureano, o negociante de cavalos que havia conversado com Firmina Teresa, prometeu à mãe que daria casa e estudo para o menino. Apesar da promessa feita à senhora, Laureano colocou o menino para trabalhar como escravo em sua fazenda.
     
    Um ano depois, em uma viagem até Itabaiana, na Paraíba, João conheceu Dona Felicidade, que o convidou a fugir da fazenda de Laureano. Em 1908, ele e a senhora chegaram ao Rio de Janeiro, onde Dona Felicidade montou uma pensão, chamada Hotel Itabaiano.
     
    Após a abertura da pensão, o garoto começou a trabalhar para Dona Felicidade, quase como escravo. Cansado da vida que levava, João decidiu fugir do local e foi viver na Lapa, em 1913.
     
    Inicialmente, morou na rua e cometeu pequenos furtos, o que acarretou algumas prisões e surras da polícia.
     
    Anos depois, o menino começou a trabalhar como vendedor ambulante de pratos e panelas de alumínio à serviço de “Seu Bernardo”. Em 1916, quando o garoto tinha dezesseis anos, ocorreu a primeira gravação de um samba, chamado Pelo Telefone, e em 1918, João começou a trabalhar como garçom na Pensão da Lapa, uma casa de tolerância da época onde aprendeu também a cozinhar.
     
    Em 1922, o sonho de ser artista começou a nascer dentro de Madame Satã – tudo por causa da companhia francesa Ba-ta-clan que passava uma temporada na cidade apresentando seu teatro de revista.
     
    Anos depois, o jovem começou a trabalhar como cozinheiro na Pensão do Catete, local onde conheceu a atriz Sara Nobre, artista que o apresentou ao mundo do teatro.
     
    Durante sua juventude, além de realizar trabalhos temporários, Madame Satã também conviveu com muitos malandros.
     
    Homossexual e transformista, em 1923, já era conhecido como um malandro respeitado pelo seu soco de esquerda, cujo apelido era Caranguejo da Praia das Virtudes.
     
    Madame Satã havia sido treinado por Sete Coroas, um malandro e cafetão muito conhecido na Lapa, que foi o responsável por introduzi-lo ao mundo da malandragem e ensinar-lhe truques com a navalha.
     
    O malandro Sete Coroas, que foi considerado por Madame Satã como o maior dentre todos os malandros que ele conheceu, morreu em 1923, deixando Satã como seu substituto na Lapa e na Saúde.
     
    No mesmo ano, Madame Satã começou a trabalhar como travesti-artista no espetáculo Loucos em Copacabana, assumindo a identidade de Mulata do Balacochê.
     
    Na época, ele se sentia muito realizado com a profissão, e desde que havia conseguido entrar para o teatro, Satã havia se afastado da vida boêmia da Lapa.
     
    Porém, em 1928, se meteu em uma briga, que acabou resultando na morte do vigilante noturno Alberto. Após o crime, Madame Satã foi condenado a 16 anos – essa prisão, especificamente, marca o fim da carreira artística do transformista.
     
    Cerca de dois anos e três meses depois, Satã foi absolvido ao alegar legítima defesa. De acordo com testemunhas, quem havia dado o primeiro golpe durante a briga havia sido Alberto.
     
    Além do assassinato do guarda, Madame Satã foi citado em outros 29 processos – 3 homicídios, 13 agressões, 2 furtos, 3 desacatos, 4 resistências a prisão, 1 ultraje ao pudor e 1 porte de arma, entre outros.
     
    Nos processos pelos quais foi indiciado, foi condenado em 10.  Além disso, atribui-se a Madame Satã cerca de cem assassinatos e mais de três mil brigas.
     
    Após sair da prisão, Madame Satã começou a trabalhar como uma espécie de vigia em bares e botequins. Em troca, o malandro recebia dinheiro, refeições e cafés. Além de proteger estabelecimentos, impedia que outros malandros e moleques de rua fossem perseguidos, e zelava para que meretrizes não fossem vítimas de agressão ou estupro. 
     
    O surgimento de Madame Satã
     
    No ano de 1938, João Francisco foi convencido a participar de um concurso de fantasia no baile de carnaval promovido pelo bloco Caçadores de Veados no Teatro República. 
     
    Na época, o concurso era muito famoso – atraía turistas do Brasil e do mundo, oferecia oportunidades de trabalho para os transformistas e cedia bons prêmios a quem concorresse.
     
    Inspirada em um morcego do Nordeste do país, mais especificamente da região de Glória de Goitá, João Francisco ganhou o primeiro prêmio do concurso: um rádio e um tapete de mesa.
     
    Dias depois, o transformista e seus amigos foram presos no Passeio Público, um parque famoso no Rio de Janeiro por ser um ponto de encontro de homossexuais.
     
    Na hora de registrar a ocorrência, o delegado pediu que João falasse seu apelido – mas ele afirmou que não tinha nenhum e se recusou a contar seu nome verdadeiro.
     
    Porém, o oficial reconheceu o malandro como o vencedor do concurso do Teatro da República. Associando a fantasia com o filme “Madam Satan”, de Cecil B. de Mille, que havia sido recentemente lançado no Brasil, o delegado decidiu apelidar João Francisco dos Santos de Madame Satã.
     
    Depois de serem soltos, os amigos de João espelharam a história pela cidade – inicialmente, João não gostava do apelido, mas se conformou aos poucos.
     
    Em pouco tempo, Madame Satã já era uma lenda no Rio de Janeiro. O apelido se espalhou tão rápido que inúmeros transformistas tentaram se batizar de Madame Satã, mas o próprio João zelava muito pela sua reputação e protegia o apelido.
     
    Satã morreu após ter complicações de um câncer no pulmão em 1976 e foi enterrado na Ilha Grande onde tinha fixado residência.
     
    Satã foi tema de livros, artigos, crônicas e até filmes, entre eles, Madame Satã que tem como protagonista o ator Lázaro Ramos (ver link acima).
     
    Fonte: Wikipedia
    Foto: Walter Firmo
     
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      • Comentário do post Audrey Beasley:
        Muiti bem escrito e informativo agora conheci madam sata joao francisco dos santos


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