Há quase 41 anos, no dia 19 de dezembro de 1983, um dos maiores símbolos da história do futebol brasileiro, o troféu Jules Rimet, foi roubado da sala da Presidência da CBF, na antiga sede da entidade, na Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro.
O fato chocou o país, especialmente pela facilidade com que os ladrões conseguiram entrar no prédio e levar não apenas a estatueta, mas também três outros troféus conquistados pela seleção brasileira.
O roubo ocorreu em um contexto delicado, nos últimos anos da ditadura militar, e foi considerado um escândalo devido à vulnerabilidade das instalações da CBF, que contavam com uma vitrine de vidro à prova de balas. Contudo, isso não foi suficiente para deter os criminosos, que quebraram a moldura de madeira da vitrine e realizaram o furto.
Desde o início das investigações, a polícia suspeitou que o crime havia sido planejado por alguém com conhecimento interno da CBF. Semanas depois, um homem identificado como Sérgio Ayres, conhecido como Sérgio Peralta e representante do Atlético Mineiro, foi preso e apontado como o idealizador do assalto. Junto dele, dois comparsas que participaram da invasão também foram detidos. A investigação ainda levou à prisão de um ourives argentino, acusado de ser o receptador do tesouro roubado.
Contudo, a apuração do caso foi marcada por controvérsias. Vários acusados relataram ter sido torturados pela polícia, que enfrentou dificuldades em apresentar provas concretas. O julgamento só ocorreu em março de 1988, quando Peralta e seus comparsas foram condenados a nove anos de prisão. No entanto, todos fugiram e se tornaram foragidos, não permanecendo muito tempo na prisão.
Um dos réus, Francisco Rivera, conhecido como Chico Barbudo, foi assassinado em setembro de 1989, enquanto aguardava o julgamento de um recurso. O crime levantou suspeitas de queima de arquivo. Em 1995, José Luiz Vieira da Silva, o Luiz Bigode, foi preso e cumpriu pena até 1998.
Por outro lado, o ourives Juan Carlos Hernandez, acusado de derreter a taça para vender o ouro, foi preso em 1998 por tráfico de drogas, mas nunca respondeu pelo roubo da Jules Rimet. Condenado, ele foi libertado em 2005.
Sérgio Peralta, considerado o mentor do crime, fugiu após a condenação e trabalhou escondido na casa de um empresário em Cabo Frio até ser preso em 1994. Ele sempre negou envolvimento no roubo e faleceu em 2003, devido a uma doença cardíaca crônica.
Quarenta anos após o roubo, o caso da Jules Rimet permanece um dos capítulos mais intrigantes e controversos da história do futebol brasileiro.
Fonte: Acervo O Globo