Em 1987 o navio de bandeira panamenha Solana Star, vindo da Austrália em direção aos Estados Unidos, despejou em alto mar 22 toneladas de maconha em 15 mil latas que foram parar no litoral do Rio e de São Paulo.
O entorpecente foi descartado porque o barco sofreu avarias e teve que se aproximar da costa brasileira. Temendo serem abordados pela Marinha, os tripulantes jogaram ao mar a carga da maconha. Das 22 toneladas, a polícia só conseguiu apreender 3,5 toneladas e o restante ficou à deriva.
Surfistas e pescadores foram os primeiros a avistar as latas de alumínio brilhando no oceano. Depois elas foram aparecendo em toda a orla e resgatadas por banhistas. Cada lata tinha um quilo e meio, vinha embalada a vácuo e banhada em mel e a maconha era apontada como de excelente qualidade. Como era perto do verão, o fato ficou conhecido como “o verão da lata”.
O navio foi apreendido e somente o cozinheiro do barco foi preso já que a tripulação conseguiu fugir. Consta que a embarcação virou um navio pesqueiro que acabou afundando em Arraial do Cabo.
Apesar do "frenesi" causado pela situação, quem fosse pego com alguma lata poderia ser enquadrado na Lei de Tóxicos e pegar até 12 anos de cadeia. De nada adiantou. A carga praticamente desapareceu.
"Foi a melhor maconha que o carioca fumou em toda a sua vida", garante o empresário e então surfista Paulo Papeti. "Maconha como aquela nunca mais rolou no Rio", complementa o aposentado Dionizio da Silva.
O fato foi tema de livros, documentários, músicas, samba de blocos e até poesias. O jornalista Wilson Aquino publicou o livro "Verão da Lata" contando detalhes desta inacreditável história. Em 2014, o History Channel lançou o documentário “Verão da Lata”, de Tocha Alves e Haná Vaisman.
Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal, fez uma poesia que mais tarde seria musicada por Fernanda Abreu: "Da lata/Sai o gênio da fumaça/Que do mar veio pra areia/Coisa boa deu na praia", diz um trecho do poema 'A lata'. A cantora, aliás, lançou em 1994 um de seus hits mais famosos e que foi justamente inspirado no episódio do verão da lata: "Veneno da Lata".
O bloco Simpatia é quase amor, à época recém criado, elegeu o evento improvável como tema de seu desfile em 1988. O Suvaco de Cristo, outro que tinha acabado de surgir e tinha como um de seus fundadores o próprio Chacal, também usou as latas de maconha como tema de seu desfile pelas ruas do Jardim Botânico.
Consta que até a atriz norte-americana Jodie Foster, que participava do extinto FestRio, experimentou a maconha.
Não fossem os registros, o caso poderia ser mais uma história inventada por um pescador ou lenda. O Verão da Lata existiu e ficou sendo um dos episódios mais curiosos que a cidade já se deparou.
Fonte: O Globo e Wilson Aquino