Brinquedos, pinturas, objetos, fotos e diversas engenhocas mirabolantes estão na exposição O universo lúdico e inventivo de Deneir Martins, nova mostra do programa Sala do Artista Popular (SAP) que o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan) abre ao público dia 11 de outubro, às 14h.
Na sequência, às 16h, ocorre a apresentação da Quadrilha João Danado do Morro Santo Amaro. Fundada em 1995, a Quadrilha é um dos orgulhos da comunidade do Morro Santo Amaro, na Glória.
Esta será a primeira vez que a Quadrilha João Danado se apresenta no CNFCP, iniciando um diálogo significativo de saberes da cultura popular na região em que é situada a instituição. A programação contempla toda família na véspera do Dia das Crianças.
Conexões em torno da cultura popular
Sem conexões até a realização da SAP, a obra e vida de Deneir Martins dialogam em vários pontos com a riqueza da Quadrilha João Danado. Autor da pesquisa e do texto do catálogo, o antropólogo Túlio Lourenço Amaral reflete sobre a importância da obra de Deneir Martins, um dos fundadores do movimento Imaginário Periférico.
“Deneir é um artista que tem muito a nos dizer. No mundo contemporâneo, marcado pelo imediatismo e utilitarismo, Deneir é confiante em criar obras a partir de tudo o que a gente possa supor, subverte esse significado ou função, para criar algo novo sem a utilidade anterior. São ideias inusitadas que resultam em brinquedos, quadros, objetos interativos, como a exposição vai apresentar ao público”, explica o pesquisador.
O universo lúdico e inventivo de Deneir Martins inspira a atmosfera da infância no público. O artista, de 71 anos, nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ), em 1954, mas cresceu no bairro de Piabetá, pertencente ao sexto distrito do município de Magé, na Baixada Fluminense, onde vive até hoje.
Começou a desenvolver sua habilidade na pintura desde cedo – atividade à qual dedicou o início de sua carreira artística.
O contato com a Rio-92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro, em 1992, evento que trouxe à baila de maneira inédita no país a pauta da degradação ambiental e da necessidade de um desenvolvimento sustentável, levou o artista a direcionar seu trabalho para a pesquisa e a produção de obras com materiais de sucata.
Passou a coletar peças em ferros-velhos, juntá-las de maneiras imprevisíveis e assim dar forma a objetos singulares. A reciclagem se torna então uma constante em sua obra.
Deneir Martins também é animador cultural no CIEP de Piabetá. Criou o projeto João de Barro, em que ensina cerâmica aos alunos. Integra o núcleo que fundou o coletivo Imaginário Periférico, em 2002, para, entre outros, atrair os olhares do circuito da arte e ampliar o acesso do público às produções locais. Deneir Martins foi ampliando o alcance de seu trabalho.
Expôs nas mais diversas galerias, museus e feiras de arte do Rio de Janeiro e do Brasil, no ano do Brasil na França (2005), ministrou oficinas de arte em Paris e participou de uma exposição coletiva em Nice. Em 2019, realizou por um mês uma residência artística na cidade de Otawara, no Japão. Dela resultou a criação, com sucata local, de uma versão de seus famosos balões, que apelidou “Balão Japonês”.
Também produziu uma instalação com dez paus-de-chuva – instrumentos musicais – feitos de bambu, cinco para serem movidos com as mãos e cinco que giravam com motor (Deneir utiliza motor de micro-ondas em suas peças mecânicas).
Nomeou a obra “Chovendo no Japão”. Comenta que pensou: “Eu vou juntar essas duas culturas. A do bambu, de lá, com a do pau-de-chuva daqui, de origem indígena. As pessoas não conheciam pau-de-chuva; adoraram aquilo, o som que tem”, declarou.
Abertura às 14h – Grátis | Apresentação da Quadrilha João Danado do Morro Santo Amaro às 16h – Grátis