A fala de Nelson Rodrigues sempre exerceu forte fascínio sobre Fernanda Montenegro. Foi a partir dessa admiração que a atriz organizou e costurou as leituras dramáticas baseadas no livro Nelson Rodrigues por Ele Mesmo, escrito por Sônia Rodrigues, filha do autor.
A obra reúne reflexões do dramaturgo sobre sua vida e criação, respeitando sua conhecida posição de que o memorialismo é uma forma de falsificação — e que, no fundo, toda ficção é autobiográfica.
Considerado o maior autor trágico brasileiro, Nelson Rodrigues revolucionou a linguagem teatral no país. Para muitos, ele é o único grande dramaturgo brasileiro, sobretudo por descobrir uma linguagem cênica essencialmente liberta dos compromissos literários.
Nelson via seu tempo como trágico e épico. Em suas crônicas dos anos 1960, foi capaz de extrair transcendência do cotidiano banal, transformando o óbvio em algo extraordinário. Ao longo da vida, firmou-se como um polemista espirituoso, cronista apaixonado pelo futebol — torcedor do Fluminense — e um pensador independente.
Não se filiou a partidos, igrejas, academias ou grupos ideológicos. Era um intelectual não orgânico, que acreditava ter o direito de se posicionar sobre os grandes temas nacionais, sem se sujeitar a convenções ou panelinhas.
Fernanda Montenegro em "Nelson Rodrigues por Ele Mesmo"
Sábados, 19 e 26 de julho, às 20h30
A leitura dramatizada celebra os 80 anos de carreira de Fernanda Montenegro e mergulha no pensamento libertário de Simone de Beauvoir (1908–1986), com destaque para sua trajetória no feminismo e sua relação profunda com o filósofo Jean-Paul Sartre (1905–1980).
Fernanda revela que seu contato com a obra de Beauvoir começou aos 20 anos. A autora francesa, considerada uma figura essencial de sua geração, tornou-se presença constante em sua formação intelectual.
Em 2007, o ator e diretor Sérgio Britto propôs à atriz a realização de um espetáculo baseado na obra de Beauvoir, que acabou não se concretizando devido à fragilidade de saúde do colega. Anos depois, a ideia ganhou nova forma a partir da obra A Cerimônia do Adeus, que Fernanda organizou ao longo de dois anos.
O resultado foi a leitura dramatizada Viver Sem Tempos Mortos, com encenação de Felipe Hirsch, direção de arte de Daniela Thomas e iluminação de Beto Bruel. Em março de 2023, Fernanda apresentou o texto pela primeira vez na Academia Brasileira de Letras, seguida por sessões no Teatro Poeira, já com trechos de outras obras da autora incorporados.
Para Fernanda Montenegro, dar voz a Simone de Beauvoir no palco é um convite à reflexão sobre liberdade. “Ao ler, no palco, Simone de Beauvoir, nós nos conscientizamos da liberdade que essa Mulher se impôs e propôs a todas as gerações que a sucederam.”
Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir
Domingos, 20 e 27 de julho, às 19h30
Sessão extra: sexta-feira, 25 de julho, às 20h30