A Arena Carioca Jovelina Pérola Negra vai receber a segunda edição da Mostra Contranarrar que apresentará sete peças teatrais curtas, escritas por expoentes autores durante as oficinas de dramaturgia do Laboratório Contranarrar.
Criado em 2022 pelo casal de artistas e produtores culturais Suellen Casticini e Jacob El-mokdisi, o projeto tem como objetivo a capacitação de autores periféricos para que desenvolvam uma dramaturgia original para teatro.
Para isso, 15 autores, com diferentes percursos artísticos, foram selecionados por meio de uma convocatória para as oficinas. O único pré-requisito era que fossem maiores de 16 anos e se considerassem periféricos. Entre os meses de abril e junho, eles participaram de um laboratório imersivo de pesquisa e produção dramatúrgica, com 18 encontros colaborativos híbridos. Os alunos receberam uma bolsa-auxílio para participar das aulas. Os sete melhores textos, escolhidos por uma banca formada por autores de edições anteriores do Contranarrar, participarão da Mostra.
Os esquetes serão encenados por jovens talentos da cena universitária teatral carioca — estudantes e egressos da Unirio, UFRJ, Martins Pena, Escola Sesc de Artes Dramáticas e cursos livres de teatro —, também selecionados por meio de convocatória. Todos os sete autores, 15 atores e sete diretores concorrem ao Troféu Contranarrar nas categorias Texto, Esquete, Ator, Atriz, Direção e Inovação, além de receberem um cachê de participação.
O prêmio de Melhor Dramaturgia será concedido pelo voto do público. Já os demais vencedores serão escolhidos por uma banca formada por nomes atuantes do meio artístico como o ator Marcello Picchi; o cineasta Ricardo Rodrigues, idealizador do Cinema de Guerrilha da Baixada; o professor-doutor Rodney Albuquerque, diretor campus São João de Meriti do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e a escritora, poetisa e diretora teatral Anna Diamante.
Profissional com mais de 20 anos de experiência nas artes cênicas, a diretora Suellen Casticini idealizou o Contranarrar a partir de sua vivência como mulher negra e periférica enquanto estudante de uma faculdade na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Tão importante quanto as aulas do Laboratório é a Mostra Contranarrar. É nela que as dramaturgias saem do papel e são apresentadas ao público. A idade dos autores varia entre 23 e 47 anos. Eles são moradores da Baixada Fluminense e das Zonas Oeste e Norte do Rio de Janeiro. Entre temas dos esquetes, a crítica social e questões ambientais predominam na edição 2024.
SOBRE SUELLEN CASTICINI
Mestranda da PPGAC da UNIRIO e Bacharel em Artes Cênicas – Direção Teatral, pela UFRJ (2019). Possui oito espetáculos dirigidos. Como dramaturga, participou da terceira turma do Núcleo SESI de Dramaturgia. Em 2018, seu texto “Vespa-Joia” representou o Rio de Janeiro no Festival de Curitiba e, outro texto seu, “Trilhos”, foi semifinalista do FESTU, Festival Universitário. Ambos tiveram os direitos de encenação comprados pelo SESI/RJ e circularam no Estado do Rio de Janeiro. Em 2020, foi contemplada no edital Prêmio Cultura nas Redes para dar aulas de dramaturgia remotas. Em 2021, foi vencedora do Festival Sonoridades Cênicas – com a dramaturgia “As cinco fases da morte de um palhaço”, contemplada com o edital Cultura presente nas Redes 2 com o monólogo em vídeo “Bicho Invisível” e pelo Fomento à Cultura Carioca e no Ações Locais com o projeto “Contranarrar – Laboratório de Dramaturgia periférica”.
SOBRE JACOB EL-MOKDISI
Produtor executivo do Laboratório Contranarrar, Jacob é roteirista, escritor, romancista, dramaturgo e contista. Vencedor do Prêmio Nacional de Novelas Históricas, na categoria Guerra de Canudos (2012), outorgado pelo Governo da Bahia, através da Fundação Pedro Calmon; do Concurso Nacional de Crônicas João do Rio (2015), pela Academia Carioca de Letras e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Tem três peças teatrais encenadas: “Azul!” (2015), a adaptação da novela de Franz Kafka “A Metamorfose” (2017) e “Enclownsurados” (2021).
Semifinalista do Concurso de Roteiros do III ROTA. Integrante do Conservatório Brasileiro de Teatro, em Dramaturgia – FUNARTE 2020; contemplado em 2020 no Edital Cultura Presente nas Redes, com uma oficina de redação de crônicas; roteirista do seriado infantil “Palhasix”, pela produtora Y!Filmes, com estreia prevista ainda para 2024; roteirista de clipes musicais.
OS ESQUETES
“Humanidade”, de Johnny Barbosa (23 anos | Nova Iguaçu)
O Amor e o Ódio entram em uma discussão para achar o culpado por ter deixado a humanidade tão sem empatia. O Amor culpa o Ódio por tudo, enquanto o Ódio se defende dizendo que ambos são os culpados.
Direção: Igor Souza. Atores: Matthielle Navarro e Mayara.
“Vestido”, de Maria Fernanda Dias (31 anos | Cosmos)
A filha, com seu vestido branco e buquê de flores, pede que a mãe telefone para o pai ausente e peça que ele esteja presente em um dos dias mais importantes de sua vida. A mãe, relutante, não deseja ligar. Mas só uma coisa seria capaz de fazer com que ela mude de ideia.
Direção: Lucas Matheus. Atrizes: Paulla Moura e Vivian Nascimento.
“Xiitos Maldito”, de Marçal Vianna (33 anos | Nova Iguaçu)
Rose está pronta para mais um dia de luta, mas um pequeno contratempo atrapalha sua rotina: um corpo é encontrado no meio do supermercado em que ela trabalha. E agora?
Direção: Gabriel de Farias. Atrizes: Thuainy Campos e Nanda.
“Primeiro Encontro”, de Dandara Barbosa (35 anos | Santa Cruz)
Uma mulher se arruma para um primeiro encontro enquanto tem um embate com sua consciência sobre o amor, aparência física, hipocrisias, histórias antigas e limites. Até onde podemos chegar na busca insana pelo amor romântico?
Direção: Pedro Péricles. Atores: Sofia Miranda e Yanka (Carlos Antunes)
“Mãe”, de Michele Lima (27 anos | Japeri)
Um ambicioso empresário da Baixada Fluminense, dono de condomínios e fábricas, esquece de cuidar da mãe, que está doente e piora com o descaso do filho. Quando resolve visitá-la, a mãe já está perto da morte.
Direção: Thuainy. Atores: Felipe Izidoro e Thuainy Campos.
“Dupla Espera”, de Aurea Bèart (47 anos | Olaria)
Em tempos de retrocesso e obscurantismo institucional, duas mães de primeira viagem estão numa clínica feminina. Como leves toques de humor e uma forte crítica social, a obra fala sobre o sucateamento da saúde, intervenção política sobre os corpos femininos e o racismo religioso e estrutural que fundamenta nossa sociedade.
Direção coletiva. Atrizes: Bela Lima e Ivy.
“Barricadas (as barreiras entre nós) ou O roubo da Lua”, de Vanessa Pequeno (45 anos | São João de Meriti)
Barricadas denuncia a vulnerabilidade social vivida numa então pacata comunidade que se torna alvo da dominação do tráfico e milícias. O abandono do poder público e a ausência de políticas eficazes impactam diretamente na vida e nas relações das famílias periféricas e moradores daquele local; sobretudo os jovens, que enfrentam os desafios inerentes à idade e à sedução do mundo paralelo. A narrativa se utiliza de diversas figuras de linguagem para abordar assuntos tão sensíveis suscitados na trama, que se desenrola a partir do suposto roubo da lua.
Diretor: Igo Ribeiro. Atores: Gabriel Dansi, Sol Souza e Igor Benhuy.