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  • Cláudia Storino: “Estamos confiantes que o Sítio Burle Marx será Patrimônio Mundial”

    Da Redação em 04 de Setembro de 2019    Informar erro
    Cláudia Storino: “Estamos confiantes que o Sítio Burle Marx será Patrimônio Mundial”

    Cláudia Storino tem ampla experiência em gestão de museus e dirige há sete anos o Centro Cultural Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba. Mestre em Memória Social pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade UNIRIO, arquiteta, designer e graduada nos cursos de Desenho Industrial e Comunicação Visual da PUC-RJ, além de especialista em Preservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos, Cláudia explica que sua gestão está empenhada no reconhecimento do complexo do sítio como Patrimônio Mundial cuja candidatura está em análise pela UNESCO. “Isso será decidido no ano que vem na reunião do Comitê do Patrimônio Mundial que será realizada em Fuzhou, na China. Estamos confiantes”, exalta.
     
    Casada com o museólogo Mario Chagas, diretor do Museu da República, Claúdia Storino diz que o Sítio Roberto Burle Marx é uma grande obra de arte que inclui, além dos jardins, peças históricas como telas de arte peruanas, objetos pré-colombianos, arte popular do Vale do Jequitinhonha, além de ambientes construídos com colunas e fachadas de antigos prédios demolidos no Centro do Rio. “A coleção dispõe de mais de 3.500 espécies, coletadas nas inúmeras viagens realizadas por Burle Marx no Brasil e no exterior, nos quatro cantos do Planeta”.
     
    Em entrevista ao Bafafá, Cláudia Storino fala sobre a gestão do sítio, a candidatura a Patrimônio Mundial e as ações educativas e culturais que integram a programação do espaço.
     
    Como é a experiência de gerir Casa Sítio Roberto Burle Marx?
    É uma das experiências ímpares que o trabalho no Iphan tem me proporcionado ao longo de mais de 30 anos de carreira. Trabalhar em lugares excepcionais, com bens culturais únicos, como é o caso do Sítio. É uma grande responsabilidade e ao mesmo tempo uma felicidade, uma emoção profunda. Os bens culturais têm um discurso próprio, eles falam por si; se temos os “olhos e ouvidos” necessários para perceber esse discurso, desfrutamos de um aprendizado diário, um crescimento pessoal e profissional extraordinário.
    Além do contato com o bem cultural em si e dos desafios postos pela sua preservação e difusão à sociedade, a gestão do SRBM é possível, principalmente, porque essa unidade conta com uma equipe muito especial, de servidores e funcionários que têm juma grande sintonia com ela, com a obra e com a memória de Roberto Burle Marx, e que, por isso têm uma disponibilidade e uma dedicação que extrapolam os seus deveres profissionais. Podemos contar sempre e integralmente com a equipe, com a expertise dos seus integrantes, com o conhecimento acumulado e com o seu amor pelo objeto de trabalho, o Sítio Roberto Burle Marx.
     
    Quais são os principais desafios no dia-a-dia?
    Posso dizer que dia-a-dia de uma instituição cultural – qualquer uma – nunca é monótono! Todos os dias, temos uma grande diversidade de assuntos a resolver, muitos deles imprevistos...
    Como principais desafios, posso citar:
    - a preservação da coleção botânico-paisagística, que, como coleção viva, se transforma permanentemente – cresce, se multiplica ou é multiplicada, sofre ataques de pragas e doenças, é afetada pelo meio circundante, pelo clima, pelas condições ambientais em geral, etc – e necessita de cuidados permanentes. Temos uma equipe que inclui profissionais de engenharia agronômica, que se dedicam à saúde das plantas e às suas condições de cultivo e multiplicação, além de botânicos, paisagistas e estudantes dessas disciplinas que apoiam, como estagiários, o trabalho do dia-a-dia.
    - a responsabilidade de atuarmos como uma instituição cultura na Zona Oeste, onde a oferta de programas culturais é mais escassa do que em outras regiões da cidade, de conseguirmos proporcionar à sociedade local programas culturais e atividades que sejam coerentes do seu ponto de vista, atendendo ao mesmo tempo a um público mais amplo, nacional e internacional.
    - atuarmos cada vez mais, de forma proativa - como desejou Roberto Burle Marx ao doar o Sítio ao governo federal - a favor da conservação do meio ambiente, do paisagismo, das artes e da cultura em geral.
     
    O que você destaca do acervo de arte?
    As obras de arte de autoria de Roberto Burle Marx, em diversos meios: pintura, escultura, desenho, gravura, painéis cerâmicos, vidros de Murano, etc. E, naturalmente, os jardins, que representam a experimentação desenvolvida por Burle Marx com as espécies tropicais e subtropicais de sua coleção, que embasou a formulação feita por ele do paisagismo tropical, depois aplicada em inúmeros jardins pelo Brasil e pelo mundo. As suas coleções – de arte pré-colombiana, de vidros e cristais, de arte sacra, de arte popular, de conchas – também merecem destaque.
     
    O acervo é raríssimo, confere?
    O acervo é muito especial, do ponto de vista da obra de Roberto Burle Marx, da qual oferece um amplo panorama, mas também por conter obras de arte que espelham o amplo interesse de RBM no campo das artes, como telas de arte cuzquenha, objetos pré-colombianos, arte popular do Vale do Jequitinhonha e outras procedências e obras de diversos outros artistas.
     
    Quantas espécies de botânica tem o sítio?
    A coleção botânica do SRBM está em sendo agora inventariada, por um processo informatizado e georreferenciado desenvolvido no próprio SRBM; a partir desse inventário, teremos informações precisas a respeito da coleção, que serão disponibilizadas ao público. Neste momento, podemos informar que a coleção dispõe de mais de 3.500 espécies, coletadas nas inúmeras viagens realizadas por Burle Marx no Brasil e em outros países, adquirida em suas viagens internacionais e obtidas a partir de intercâmbios com instituições botânicas.
     
    Como afluir mais gente no local?
    Atualmente o SRBM oferece visitas guiadas, recebendo um máximo de 70 pessoas pela manhã e 70 à tarde (às 09:30 e às 13:30); nosso objetivo com o projeto de requalificação atualmente em curso, com apoio financeiro do BNDES, é atingir esse número máximo. As visitas são necessariamente guiadas e pré-agendadas, por necessidades de proteção do acervo botânico-paisagístico e também por segurança do público.
    Um “gargalo” que identificamos é a falta de transporte público mais eficiente até o local, pois Barra de Guaratiba é atendida por apenas uma linha de ônibus que a liga a Campo Grande, também na zona Oeste, não havendo transporte direto das zonas norte, sul e centro da cidade. Para se chegar ao Sítio, vindo dessas regiões da cidade, é preciso tomar o metrô, depois o BRT e, descendo na estação de Ilha de Guaratiba, pegar o ônibus que vem de Campo Grande, ou descer do BRT no Recreio Shopping e dali pegar um taxi.
     
    Qual é o papel do sítio no campo da pesquisa?
    O SRBM está investindo fortemente, agora, na constituição de um herbário, no inventário e na catalogação da sua coleção botânica; futuramente pretendemos firmar parcerias com universidade e intensificar a oferta de cursos e bolsas de pesquisa. A coleção está à disposição dos pesquisadores, há bastante tempo, e já existem pesquisas desenvolvidas em torno de diversas das famílias botânicas existentes no SRBM. Como se trata de uma coleção desenvolvida com um perfil bastante especial, e que contém espécies registradas como em perigo de extinção pela Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, esse acervo botânico se reveste de uma importância especial, como fonte de pesquisa e também como banco genético.
     
    Está confiante na expectativa do sítio virar Patrimônio Mundial?
    Todos nós, da equipe do SRBM, consideramos que o Sítio é patrimônio mundial. Estamos confiantes, sim, e em grande expectativa para o ingresso do SRBM na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco. Isso será decidido no ano que vem, na reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, que será realizada em Fuzhou, na China. A decisão será baseada no dossiê de candidatura elaborado pelo SRBM e já enviado à Unesco e no relatório da especialista consultora que virá ao Sítio numa “Missão de Avaliação”, em breve.
     
    Quais são os planos a curto e médio prazo?
    No momento estamos em “reta final” do processo de candidatura do Sítio a Patrimônio Mundial, e simultaneamente também em “reta final” de um intenso processo de requalificação, com apoio do BNDES. Esse processo de requalificação nos proporcionará uma série de ações importantes que serão implantadas até novembro deste ano - uma nova expografia para a Casa de Roberto, a catalogação informatizada das boras de autoria dele, a organização de um espaço de acolhimento de público, entre outras – e de diversos projetos, cuja implantação será nosso próximo objetivo. Entre os projetos que estão sendo desenvolvidos, há projetos de arquitetura: reforma do Prédio da Administração, implantação de um espaço de acolhimento de público, com loja e um módulo expositivo, e construção de um bloco novo, onde serão instalados um auditório, espaços de serviço (como vestiários e refeitório para a equipe) e a área técnica, completa com herbário, laboratórios e salas de trabalho dos técnicos. Isso – esperamos - se dará em médio prazo.
    Para o ano que vem, pretendemos integrar o a programação do Congresso Internacional de Arquitetos realizado pela União Internacional de Arquitetos (UIA) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Pretendemos hospedar, nessa ocasião, um seminário internacional de paisagismo.
     
    Como a comunidade se relaciona com o sítio?
    A comunidade conhece o Sítio, mas não o frequenta muito, nem se utiliza dele com a intensidade que gostaríamos, exceto na festa de Santo Antônio e nas missas dominicais realizadas na Capela e, esporadicamente, em alguns dos eventos que realizamos.
    Esse é um dos assuntos que foi estudado no projeto citado acima; a partir das pesquisas de opinião e dos estudos realizados a esse respeito, pretendemos desenvolver a oferta de novas atividades que se aproximem mais das necessidades e expectativas da sociedade local.
     
    Qual é a frequência das atividades culturais?
    Desde 2012 o SRBM oferece um Calendário Anual de Eventos, com concertos, palestras, cursos curtos e outras atividades; esse calendário é divulgado em nossa página no portal do Iphan (o SRBM é uma Unidade Especial do Iphan) e nas nossas redes sociais; ao menos uma vez por mês há oferta de eventos.
     
    Outro evento de grande sucesso é a Jornada de Pintura. A 7ª Jornada de Pintura do Sítio Roberto Burle Marx, evento que tem como objetivos comemorar a chegada da primavera, estabelecer uma relação com o legado cultural deixado por Roberto Burle Marx e incentivar a arte será realizada no dia 21 de setembro (sábado). As inscrições, gratuitas, para esse evento estarão abertas de 2 a 16 de setembro.
    (ver: https://www.facebook.com/SitioBurleMarx.Iphan/photos/gm.412420459377745/2452986831431004/?type=3&theater)
     
    Como frequentar os cursos do sítio?
    Os eventos – inclusive os cursos – são divulgados nas redes sociais do SRBM (ver: https://www.facebook.com/SitioBurleMarx.Iphan/) e na página do SRBM (ver: http://portal.iphan.gov.br/srbm). Também se pode obter informações pelo telefone 2410.1412 (agendamento de visitas) ou 2410.3000.
     
    O que mais destacaria no sítio para o visitante?
    O todo formado pelos jardins, obras de arte e edificações, que pode ser considerado como uma grande obra de arte e é um discurso potente a favor da cultura e da conservação da natureza.
     
    Tem alguma utopia?
    Conseguirmos preservar e difundir a obra de Roberto Burle Marx e contribuir efetivamente para a conservação da natureza.
     
    Setembro 2019


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