João Donato de Oliveira Neto, o João Donato, nasceu em 1934 em Rio Branco no Acre. Filho de um major da Aeronáutica veio jovem para o Rio de Janeiro. Sua carreira começou com apenas 15 anos tocando acordeom com Altamiro Carrilho e em
jazz sessions na casa de Dick Farney.
Admirador do jazz e da música afro-cubana, o pianista é apontado como um ícone da bossa nova. “A bossa nova é um samba de apartamento, menos barulhento, na base do violão acústico, sem pandeiro e tamborim. O jazz influenciou na harmonia”, afirma Donato.
Em entrevista ao Bafafá, João Donato fala sobre a sua relação com o samba e o jazz, carreira, estilos musicais, influências, projetos e muito mais. Questionado se tem alguma utopia, afirma: “Todos os meus sonhos se tornaram realidade. Para isso, é só sonhar com intensidade e firmeza. O segredo é imaginar uma coisa e ela se tornar realidade”.
O jazz influenciou a bossa nova ou a bossa nova influenciou o jazz?
A influência do jazz tornou a nossa música um pouquinho diferente, principalmente a partir da bossa nova. Depois disso os americanos começaram a repetir a imitação, a influência da influência (risos). Esse estilo de cantar baixinho o Chet Baker já fazia. Muitas vezes você cria um estilo de música e descobre que em outros lugares alguém fez parecido, sem nunca você ter se encontrado antes. Ou então você é influenciado diretamente, você ouve uma pessoa e se identifica. O João Gilberto influenciou muita gente, as pessoas começaram a cantar, gravar discos.
A bossa nova é samba ou é jazz?
A bossa nova é um samba de apartamento, menos barulhento, na base do violão acústico, sem pandeiro e tamborim. O jazz influenciou na harmonia.
Porque a Bossa Nova não se renovou?
Os tempos mudaram, os anos 50 eram de um jeito, o ano 2009 é de outro jeito (risos). A bossa nova foi se transformando, mudou para tropicália, tecno-pop. Ela se transformou.
Acha que outro estilo parecido com a bossa nova pode surgir?
Estão surgindo muitos estilos. A influência do samba está sempre presente nessas invenções de hoje (risos). É nítida também a influência do Brasil na música como um todo.
A música americana te influenciou?
Morei nos EUA durante 12 anos, mas tive mais contato com a música latina. Nas noites de Nova Iorque e Los Angeles ela tem seu espaço pela influência mexicana, cubana, porto-riquenha. Foi nestas cidades que eu encontrei trabalho. Quando fui procurar o jazz constatei que os músicos de jazz tocavam nas orquestras latinas de Perez Prado, Tito Puentes, Machito, Eddi Palmieri (risos). Nos EUA, pelas circunstâncias, fui mais influenciado pela música afro-cubana. O jazz foi o que eu vi de menos lá. Ele era restrito a poucos lugares e mais reservado a grandes nomes.
Confere que o calçadão da Praia de Copacabana era o melhor lugar para se fala mal dos outros?
Na década de 50, eu costumava conversar com o João Gilberto no calçadão da Praia, em frente ao Copacabana Palace, nos intervalos dos shows. Não tinha programa melhor do que bater papo e falar mal dos outros, acerca de quem não compreendia a nossa música.
Qual foi o seu papel na fundação da bossa nova?
Ajudei a divulgar a música instrumental que era mais jazzística enquanto que a bossa nova era mais suave. Eu colaborei mais na parte instrumental tocando com os instrumentos mais abertos, com um som mais natural, mais dinâmico.
Sua carreira é marcada por parcerias. Alguma parceria nova?
Tenho parcerias novas com Fernanda Takai, Marcelo D2, Carlinhos Brown, Joyce, entre outros.
O Donatinho é teu sucessor?
Ele sempre demonstrou tendências musicais, mas eu não ensinei nada para ele (risos). Ele estudou música com Antonio Adolfo, mas com certeza a nossa convivência deve ter marcado a sua personalidade.
Você gosta do Rio de Janeiro?
O Rio de Janeiro me acolheu desde que vim do Acre. Cheguei e fiquei, sou um “acreoca” (risos). Aqui é ótimo, o meu lugar é aqui.
Tem algum projeto a curto prazo?
Gravar um disco com o Donatinho, Marcelo D2 e outro com o Jacques e a Paula Morelembaum.
Alguma utopia?
Sinceramente não. Todos os meus sonhos se tornaram realidade. Para isso, é só sonhar com intensidade e firmeza. O segredo é imaginar uma coisa e ela se tornar realidade.
Entrevista concedida a Ricardo Rabelo, editor do Bafafá.
Novembro de 2009