Há exatos 12 anos, em novembro de 2013, o Rio começava a se despedir do Elevado da Perimetral, uma das estruturas mais emblemáticas — e polêmicas — da paisagem urbana.
A demolição do Elevado da Perimetral, que por mais de meio século ligou o Aeroporto Santos Dumont à Ponte Rio–Niterói, mudou completamente a configuração da Orla Portuária, resgatando uma área antes degradada.
Construído na década de 1960 para dar fluidez ao trânsito, o viaduto logo se tornou um obstáculo entre a cidade e o mar. Com o tempo, o concreto cinza encobriu a vista da orla e transformou a Zona Portuária em um espaço isolado do restante do Centro.
“Quando começaram a derrubar aquele monstrengo, confesso que chorei. Não de tristeza, mas de alívio”, lembra Dona Nair, moradora antiga da Gamboa, de 72 anos. “Eu morei a vida toda aqui, e o sol quase não chegava. Era um paredão de concreto entre a gente e o mar. Hoje eu desço pra caminhar no Boulevard e vejo gente, vejo criança, vejo o porto vivo de novo. O Rio respirou.”
A remoção da Perimetral marcou o início de uma nova fase para o Rio. No lugar do elevado, surgiram túneis, novas vias expressas e o Boulevard Olímpico, que devolveu ao carioca a possibilidade de caminhar junto ao mar. O Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio tornaram-se símbolos dessa transformação urbana.
“Na época, muita gente dizia que o trânsito ia virar um caos sem a Perimetral. Eu mesmo fiquei com um pé atrás”, recorda Pedro, engenheiro de trânsito de 38 anos. “Mas o projeto mudou a lógica da cidade: abriu espaço pros túneis, pro VLT, pro pedestre. O Centro passou a ser pensado de outro jeito. O desafio agora é fazer o carioca voltar a ocupar o Centro com segurança e transporte decente.”
Doze anos depois, a paisagem é outra. Onde antes havia sombra e concreto, há hoje praças, ciclovias e espaços de convivência. O que parecia impensável para muitos em 2013 — a derrubada de uma via essencial ao trânsito — revelou-se um marco na reaproximação do Rio com sua história e com sua baía.