Não existe um campeão mundial sem o mundo. O tema da palestra do tetracampeão mundial de F1 Sebastian Vettel nesta terça-feira, 12, dia de abertura do Rio Innovation Week 2025, conversa diretamente com o atual propósito do piloto.
Uma das principais atrações da programação do RIW deste ano, Vettel reuniu centenas de participantes para compartilhar experiências pessoais e reflexões sobre o impacto ambiental de sua carreira, defendendo combustíveis sustentáveis e a preservação da biodiversidade. Ao lado do jornalista Carlos Gil, destacou experiências transformadoras, como a visita à Amazônia, e a importância de inspirar as próximas gerações a cuidar do planeta. “Eu mudei a minha mente, agora estou positivo: a melhor corrida ainda está por vir”, garantiu.
Vettel é um dos maiores nomes da história do automobilismo, tendo conquistado quatro títulos mundiais consecutivos entre 2010 e 2013. Conhecido por sua inteligência estratégica e habilidade em condições extremas, o alemão passou a se dedicar a causas socioambientais desde que deixou as pistas em 2021, já tendo, inclusive, visitado a Amazônia. “Tenho muito respeito pelos povos indígenas. Para eles, nós, de fora, é que invadimos o mundo deles, e eles têm sido tolerantes”.
O ex-piloto não se furta de recorrer ao mundo do automobilismo para dar uma nova direção à sua carreira. Com o slogan “uma corrida a ser vencida”, Vettel aponta para uma nova linha de chegada. “Olhar para diferentes países abriu meus olhos. Quero ver um futuro melhor para as próximas gerações. Lutei pela introdução de combustíveis sustentáveis na Fórmula 1. É um primeiro passo importante, mas não podemos parar por aí. Vamos apostar nas crianças para que elas também nos eduquem, vendo o futuro com outra lente”, defendeu.
Outra personalidade do esporte que marcou presença no evento foi a bicampeã olímpica de ginástica artística Rebeca Andrade.
Maior medalhista do Brasil, com um total de seis medalhas, Rebeca anunciou durante a RIW que não competirá mais no solo, prova em que conquistou a medalha de ouro nos Jogos de Paris 2024 e foi reverenciada pela multicampeã americana Simone Biles. Em sua exposição, Rebeca destacou a importância de representar a cultura popular no esporte, ressaltando que todo o sucesso é fruto de dedicação, apoio da equipe e de sua trajetória no alto rendimento.
Ao falar sobre o trabalho, ela ressaltou o orgulho de ver seu nome reconhecido e o peso de inspirar milhões de brasileiros, especialmente crianças e jovens atletas. “Eu me sinto muito honrada por ter levado comigo o funk, a minha história e a humildade. Se a gente colocar na ponta do lápis, baseada na minha história, quem acreditaria que eu seria a maior medalhista olímpica do país?”, indagou. E lembrou do momento histórico no pódio com Simone Biles. “Foi um momento muito especial para mim e para ela. Foi um pódio de três mulheres pretas. A imagem que hoje roda o mundo todo é muito grandiosa. Da maneira mais pura, eu pude representar o que eu sou”, considerou.
A programação da manhã do primeiro dia do RIW teve também a palestra do empresário e economista Gunter Pauli. O belga discutiu como o Rio, que será sede da Conferência do Oceano da Unesco em 2027, pode usar o mar para incentivar a “Economia Azul”, conceito criado por ele em 2010 e cujo livro sobre o tema já vendeu 1,4 milhão de exemplares. Junto com Renato Jordão Bussiere, presidente do Instituto Estadual do Ambiente – INEA, Gunter Pauli destacou o potencial da orla e das ilhas do estado do Rio de Janeiro, o investimento do governo estadual na recuperação da Baía da Guanabara e a importância da educação sustentável, principalmente entre os jovens, e da inclusão social diante das mudanças climáticas. Bussiere e Pauli reforçaram também o compromisso que o governo, as empresas e as universidades precisam assumir com a pesquisa sobre o oceano.
“O Rio tem 406 ilhas com grande biodiversidade de algas do mar que não têm uso. Como é possível deixar de aproveitar isso tudo quando as algas do mar crescem mais rápido do que as árvores? Nas ilhas da Tanzânia, temos cerca de 23 mil mulheres cultivando algas. No Rio, cerca de 23 mil mulheres poderiam trabalhar com isso. Assim, o futuro terá o potencial de ser melhor’, afirmou.
E endereçou mensagem positiva à juventude. “Precisamos levar em conta que a maioria dos jovens pensa que a sociedade não oferece futuro. Precisamos falar com eles de forma positiva, direcionada e inspiradora, mostrando ferramentas sustentáveis concretas – como a eletricidade gerada pela casca de banana. Quando você tem a cultura de falar de forma positiva, você vai mudando o que precisa ser mudado no mundo. O importante é que haja emprego, não tenha fome e que as pessoas sonhem que um dia possam fazer melhor do que os seus sonhos”, completou.
Com a palestra "Relações na era da distração: um olhar antropológico", o antropólogo e sócio-diretor da Consumoteca Michel Alcoforado debateu sobre a dificuldade de socialização e da manutenção de vínculos fortes com outras pessoas na pós digitalização do mundo e da pandemia. “Na economia da atenção, os vínculos são impactados, há perda de espontaneidade e intolerância com os outros. Os conteúdos viraram manifestações de afeto, e compartilhar dos mesmos interesses é o novo código de intimidade. E a gente tem perdido a intimidade em relações parentais muito próximas. De 2024 para 2025 o uso de IA para terapia e conversa aumentou. Mas como fortalecer as relações humanas? É preciso resgatar rituais coletivos, restabelecer acordos afetivos, abrir espaço para o improviso e naturalizar a convergência e o conflito”, afirmou Alcoforado.
O Rio Innovation Week prossegue nesta quarta-feira, 13, com inúmeras atrações, entre elas a palestra “IA na cozinha? O que John Maeda tem a dizer vai te surpreender”. Maeda é vice-presidente de design e inteligência artificial da Microsoft. O RIW terá também o escritor Marcelo Rubens Paiva, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o cantor Ney Matogrosso e o cientista James Daniel, que falará sobre computação quântica.
Fonte: Rio Innovation Week