Enquanto o debate sobre Tarifa Zero no transporte municipal avança no país, com avaliação federal e votação em Belo Horizonte, Maricá segue operando o sistema gratuito de ônibus iniciado há quase 11 anos.
Conhecidos como “Vermelhinhos”, os coletivos atendem toda a população de 212 mil habitantes e visitantes. A estimativa é de uma economia mensal de R$ 16 milhões em passagens.
Maricá não é a cidade mais populosa a adotar o modelo — Caucaia (CE) tem 375 mil habitantes —, mas concentra o maior número de ônibus, viagens e usuários diários.
Segundo Celso Haddad, presidente da Empresa Pública de Transportes (EPT), 65% da população utiliza ônibus para deslocamentos de segunda a sexta-feira, com base em pesquisa feita entre 2022 e 2023 para o Plano de Mobilidade da cidade.
Em média, 45% usam ônibus diariamente e menos de 20% utilizam carro, proporção inversa à de outras cidades, onde 40% utilizam carro e menos de 20% o transporte coletivo.
Para Haddad, a discussão nacional sobre a origem dos recursos orçamentários precisa considerar também o transporte como direito constitucional e política pública:
“A adoção da Tarifa Zero é, antes de tudo, uma decisão política. Quando implementamos o modelo, éramos o município que menos recebia royalties do petróleo na Região Metropolitana. Hoje, cerca de 140 cidades do país já adotam a Tarifa Zero, e o investimento representa de 1% a 5% do orçamento municipal. Esse investimento tem impacto direto em saúde, educação, cultura, lazer, economia e desenvolvimento”, afirmou.
Avanço da pauta nacional
O tema ganhou espaço nas últimas semanas. No fim de agosto, o presidente Lula pediu que sua equipe avaliasse um projeto de Tarifa Zero em nível nacional. Em setembro, a Câmara Municipal de Belo Horizonte iniciou a votação de um projeto que pode tornar a capital mineira a primeira grande cidade a adotar a medida. A proposta também foi apresentada na Assembleia Legislativa de Minas, com objetivo de estender o benefício à Região Metropolitana.
Impacto econômico
Maricá implantou a gratuidade em 2014, antes do aumento da arrecadação com royalties do pré-sal. Atualmente, o município opera uma frota de 158 ônibus em 49 linhas por meio da EPT. São 115 mil embarques diários, em média.
Entre janeiro e agosto de 2025, a economia para a população foi de R$ 127,4 milhões, valor calculado com base na tarifa média de R$ 5,21 praticada em cidades próximas. O montante equivale a R$ 16 milhões por mês, que permanecem com as famílias e circulam em outros setores da economia.
Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) comparou 57 cidades com Tarifa Zero a municípios com cobrança tradicional. As cidades com gratuidade registraram 3,2% mais empregos e crescimento de 7,5% no número de empresas, indicando efeitos econômicos positivos da circulação livre de pessoas.
Sustentabilidade e novos investimentos
Maricá planeja substituir toda a frota por veículos movidos a energias renováveis até 2030. Estão em desenvolvimento ônibus híbridos que utilizam hidrogênio verde, etanol e eletricidade. O investimento é de R$ 11,5 milhões na construção de postos de abastecimento e estações de recarga, com recursos dos royalties do petróleo. A expectativa é de redução de custos operacionais e de manutenção no médio e longo prazo.
Desde 2021, a cidade também oferece um sistema gratuito de bicicletas compartilhadas, com 570 unidades distribuídas em 57 estações.