Nas décadas de 70 até o final dos anos 90, as festas em apartamentos no Rio de Janeiro eram muito comuns, transformando salas de estar em palcos de celebrações inesquecíveis.
Muita música, dança e socialização marcaram essas décadas, onde as festas em casa eram uma tradição quase sagrada.
Elas começaram nos anos 70, época marcada por mudanças culturais e comportamentais. Como o país vivia sob uma ditadura, os jovens preferiram e eram até incentivados pelos pais a reunir os amigos em casa.
Com a expansão das classes médias urbanas, muitas famílias passaram a morar em apartamentos. Foi nessa época que as festas em casa começaram a ganhar popularidade.
Com influências da contracultura, as festas tornaram-se uma forma de expressão e resistência. Reuniões intimistas, com luzes coloridas, bolas de espelho e tapetes felpudos, refletiam o desejo de viver novas experiências e de conectar-se com amigos em um ambiente aconchegante e, ao mesmo tempo, libertador.
A década de 80 trouxe o som de Michael Jackson, Madonna, e bandas como Queen, enquanto os apartamentos eram preenchidos com flashes de luz, cores neon e mobiliário moderno.
Havia um certo glamour em abrir as portas de casa para receber os amigos e vizinhos, criando uma atmosfera de comunhão e amizade. As festas de "fundo de quintal" transformaram-se em "fundo de apartamento", com churrascos improvisados nas varandas e festas que muitas vezes varavam a noite.
Nos anos 90, as festas em apartamentos consolidaram-se como parte do lifestyle urbano. O período foi marcado pela popularização dos "happy hours" caseiros, onde os yuppies – jovens profissionais urbanos – relaxavam após o trabalho, socializando com amigos em ambientes mais privados e controlados.
As festas tornaram-se mais diversificadas, com temas específicos, como noites de jogos, karaokês e exibições de filmes, refletindo a crescente personalização e a busca por experiências únicas.
Com a virada do milênio, tudo mudou no comportamento social. O ano 2000 marcou o fim de uma era para as festas em apartamentos.
Vários fatores contribuíram para isso: o aumento das preocupações com segurança, a valorização crescente da privacidade, e a transformação das dinâmicas sociais.
A ascensão dos condomínios fechados com regras mais rígidas, a popularização dos bares, clubes e espaços de eventos, além do crescimento das redes sociais, onde as interações passaram a ocorrer no mundo virtual, levaram as pessoas a fecharem suas portas para grandes celebrações caseiras.
A mudança de comportamento também refletiu um maior desejo por organização e controle. Com as novas normas de convivência em prédios e a necessidade de evitar conflitos com vizinhos, as grandes festas em apartamentos foram substituídas por encontros menores e mais reservados. As novas gerações passaram a preferir sair para ambientes públicos do que receber grandes grupos em suas casas.
As festas em apartamentos das décadas de 70 a 90 deixaram um legado de liberdade e expressão. Elas foram testemunhas de um tempo em que as casas eram mais abertas, as interações mais espontâneas e a vida social girava em torno do encontro físico e do compartilhamento de momentos.
Hoje, lembramos com nostalgia dessas festas, que representaram muito mais do que simples celebrações – foram uma forma de resistência, de vivência plena e de criação de laços que, em muitos casos, duraram para sempre.
A virada do milênio trouxe novos tempos, e com eles, novas formas de se relacionar. Mas, para muitos, o brilho das festas em apartamentos nunca se apagará completamente.