Todos os bairros têm um personagem em destaque. Em Copacabana, com certeza, um deles era o Zé das Medalhas, uma figura folclórica e inesquecível do Rio de Janeiro.
Altair Domiciano Gomes chamava a atenção de todos ao carregar nada menos que 15 quilos de balangandãs pendurados no peito e anéis em todos os dedos. Curiosamente, ele trabalhava como balconista na Farmácia do Leme, sempre vestindo suas exóticas peças.
Sua história peculiar começou em 1971. Já trabalhando na seção de perfumaria da farmácia, um menino lhe deu uma peça de rádio de pilha, que ele decidiu pendurar no pescoço. Esse simples gesto marcou o início da transformação de Altair em Zé das Medalhas, um personagem que encontrou sua identidade ao carregar consigo essas relíquias.
Nascido em Porciúncula, no interior do estado do Rio de Janeiro, ele chegou à capital fluminense em 1957 e sofreu com discriminação. "Sofri todo tipo de preconceito antes disso. Copacabana era o bairro mais elegante do mundo naquela época", dizia ele, com certa nostalgia.
Zé das Medalhas não usava um colete onde as peças já estivessem presas; ao contrário, cada uma delas era colocada individualmente em um ritual diário que levava cerca de uma hora. Mesmo após deixar o emprego na farmácia, ele manteve seu estilo característico, morando na Rua Prado Júnior, em Copacabana.
Muitas pessoas que o conheceram se lembram com carinho de sua figura. "O Zé era único. Quem passasse por Copacabana sem vê-lo, perdia uma das grandes atrações do bairro", diz Carlos, antigo morador da região.
"Ele nunca estava de mau humor. Sempre tinha uma piada ou um sorriso, mesmo quando carregava o peso daquele monte de medalhas", conta a agente de viagens Patrícia, residente na Rua Ministro Viveiros de Castro.
Zé das Medalhas faleceu em 2021, vítima da Covid-19, mas sua memória continua viva no imaginário carioca, como um personagem de uma época em que Copacabana fervilhava de histórias. Curiosamente, ele tem um homônimo em São Paulo com as mesmas características.