A apenas 300 metros de distância da Ilha de Paquetá – provavelmente o mais bucólico dos bairros do município do Rio de Janeiro – fica a Ilha de Brocoió. Em tupi-guarani, a palavra significa “sussurro”.
Acredita-se que, antes da colonização portuguesa, servisse como local de exílio para índios rebelados. E sabe-se que, nos tempos da escravidão, o lugar era usado como uma das paradas de quarentena, antes que os negros cativos da África desembarcassem na cidade.
Durante o período colonial – quando a cal, misturada ao óleo de baleia, servia de base para as construções –, a ilha também serviu para a produção caieira. Segundo historiadores, ela foi descoberta por André Thevet, cosmógrafo integrante da expedição de Nicolas Durand de Villegagnon, que, em 1555, fundou no Rio a França Antártica.
Foi apenas a partir da aquisição da área pelo empresário brasileiro Octávio Guinle e da atuação de outro francês que Brocoió inaugurou seu período de apogeu. O magnata encomendou ao arquiteto Joseph Gire, um dos mais renomados à época, o projeto de uma mansão, que ficou pronta em 1932 e até hoje é uma das únicas em estilo normando em toda a América Latina.
Os materiais utilizados vieram da França e de Portugal. Um enorme órgão, que possui um mecanismo capaz de executar sozinho um grande acervo de partituras clássicas, foi trazido da Alemanha. Além dos dois andares residenciais, a edificação tem também um sótão e um porão. Ainda fazem parte do complexo uma casa para o administrador, um depósito, uma estufa, um abrigo para lanchas, um píer, um viveiro de peixes e um lago.
Em 1944, durante a gestão de Henrique Dodsworth, a ilha foi comprada por seis milhões de cruzeiros pela Prefeitura do Distrito Federal.
A promessa de que o local seria aberto à visitação pública, repetida por muitos governantes desde então, jamais se realizou.
Transferida para o governo do estado, a propriedade serviu como residência de verão para algumas autoridades e, em 2016, foi repassada para o Rioprevidência, deixando de ser de titularidade do Poder Executivo. Com o acesso marítimo desativado, a única maneira de se chegar à ilha, atualmente, é de helicóptero.
Durante muito tempo, o local foi frequentado por faisões e pavões, que passeavam soltos no jardim projetado por Joseph Gire. Mas também por políticos, e não apenas para comemoração ou descanso.
Nos anos 1960, por exemplo, o governador Carlos Lacerda costumava trabalhar no escritório da suíte, que tem vista privilegiada para a Cidade Maravilhosa. O banheiro, logo ao lado, é uma verdadeira obra de arte.
Numa mescla dos estilos art déco e art nouveau, a banheira e as pias foram esculpidas em blocos únicos de mármore de Lioz em tom amarelo e adornadas com torneiras de bronze em forma de pássaros.
Hoje está em abandono e existem entendimentos para que seja cedido para abrigar a
Universidade do MAR.