Nascido em Gondomar, Portugal, no ano de 1940, José Alves de Moura chegou ao Brasil aos 17 anos com o sonho de vencer na então capital do país, o Rio de Janeiro.
Passou por diferentes profissões — foi comerciante, empresário de futebol e motorista de táxi —, mas acabou conhecido por algo completamente fora dos padrões: beijar celebridades.
Em 1966, a vida de Moura mudou drasticamente. Durante um assalto, foi violentamente atingido na cabeça, o que desencadeou uma longa trajetória de internações psiquiátricas ao longo de sua vida.
Sua guinada definitiva ao imaginário popular veio na noite de 26 de janeiro de 1980, quando, diante de um Maracanã lotado para um show de Frank Sinatra, aceitou um desafio de amigos: invadir o palco e beijar o astro norte-americano. Conseguiu furar a segurança e, diante do espanto geral, deixou seu selo na face de Sinatra. A ousadia correu os jornais de todo o país.
Nascia ali o “Beijoqueiro”, como a imprensa logo o batizou — e como se autodeclarou desde então. Moura transformou o impulso em missão: invadir eventos e surpreender personalidades com beijos, diante das câmeras e da incredulidade dos seguranças. O cineasta Carlos Nader imortalizou essa obsessão no documentário O Beijoqueiro, de 1992, chamando-o de um verdadeiro “serial kisser”.
Mas a fama trouxe seus custos. Foi demitido do trabalho como taxista, acusado de assustar os passageiros. A primeira esposa o abandonou, pressionada pelos boatos de homossexualidade que cercavam seu comportamento. Ainda assim, Moura seguia com sua cruzada amorosa.
Sua lista de “vítimas” é impressionante: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tony Bennett, Leonel Brizola, Sarah Kubitschek, Dona Dulce, João Figueiredo, Itamar Franco, Mário Soares, Roberto Dinamite, Biro-Biro, Garrincha, Falcão, Zico… Ao beijar este último, aliás, acabou preso e espancado por policiais, quebrando dentes e costelas. A violência gerou comoção, e o juiz Mayrino da Costa o libertou com uma sentença simbólica:
“Beijar não é crime. Quem dera se todos os delinquentes trocassem suas armas por beijos.”
Durante a visita do Papa João Paulo II ao Brasil, também em 1980, Moura se tornou uma preocupação de Estado. Preso preventivamente no Rio, tentou seguir o sumo pontífice por outras cidades. Foi detido em São Paulo, deportado de volta ao Rio, mas conseguiu carona para Curitiba, onde foi preso pela terceira vez. Sem se dar por vencido, apelou ao público na praça e arrecadou dinheiro suficiente para comprar uma passagem de avião para Manaus — última parada do Papa. Lá, finalmente, conseguiu o impossível: aproximou-se do pontífice e, ajoelhado, distribuiu 17 beijos em seus pés.
O preço de tanta ousadia foi alto: mais de 70 prisões e inúmeros ferimentos causados por seguranças que raramente levavam seus beijos com bom humor.
Em 2009, José Alves de Moura aposentou o gesto que o tornou famoso. Desde então, desapareceu do noticiário — e da própria vida pública. Seu paradeiro é desconhecido. Resta sua lenda: a do homem que transformou o beijo em protesto, em vício, em obsessão — e, para alguns, em arte.