A chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, provocou um terremoto na então pacata cidade do Rio de Janeiro. Estima-se que cerca de 15 mil portugueses cruzaram o Atlântico na rebarba de Dom João, entre militares, funcionários reais, padres, advogados, entre outros.
O resultado não poderia ser pior do que foi. Em poucos meses, a população aumentou tanto que faltaram casas para abrigar tanta gente, a ponto de muitas serem desapropriadas pela Corte, além de principalmente alimentos.
Estima-se que a Corte consumia por dia 513 galinhas, frangos, pombos, perus e 90 dúzias de ovos, chegando a absurdas 200 mil aves e 33 mil dúzias de ovos anualmente que custavam aos cofres o equivalente a 50 milhões de reais. Para piorar a situação, decreto do Rei dava prioridade à compra de aves à Corte. Obviamente, a medida provocou escassez e revoltou os moradores da cidade.
A economia também sangrou. Segundo Laurentino Gomes, autor do livro 1808, estima-se que o déficit no orçamento aumentou 20 vezes. Para gerar caixa, a Corte fez empréstimos com a Inglaterra e criou um banco estatal para emitir moeda. Foram então ofertadas ações que eram compradas em troca de títulos de nobreza e nomeações para cargos públicos.
Entre 1808 e 1821, Dom João outorgou 26 marqueses, oito condes, 16 viscondes e quatro barões, além de 4.048 insígnias de cavaleiros, comendadores e grã-cruzes da Ordem de Cristo, 14.422 comendas da Ordem de São Bento de Avis e 590 comendas da Ordem de São Tiago. Nas ruas, o que mais se ouvia era a frase: "Em Portugal, para fazer-se um conde se pediam 500 anos, no Brasil 500 contos".
Em 1820, um ano antes do retorno de Dom João à Portugal, o banco estava arruinado e suas ações representavam apenas 20% do dinheiro em circulação. Para piorar, ao deixar o Brasil, Dom João levou todas as barras de ouro e os diamantes que a coroa mantinha nos cofres do banco.
Fonte: Laurentino Gomes, no livro 1808 (como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil).