TURISMO >> Histórias do Rio
-
Migração espanhola ao Brasil chegou a meio milhão de pessoas no início do século XX
Da Redação em 16 de Setembro de 2022 Informar erro
A imigração espanhola com destino ao Rio de Janeiro aconteceu de forma mais expressiva do final de 1890 a 1940. Foi constante, embora menor, se comparada com o número de portugueses e italianos que chegaram na mesma época. Os espanhóis vinham das regiões mais pobres do país, como Galícia e Andaluzia. Não se sabe ao certo quantos eram, mas, no Brasil, estima-se que somavam cerca de meio milhão de pessoas.A emigração se devia à pobreza no meio rural e, a partir de 1930, também à destruição e às dificuldades trazidas pela Guerra Civil Espanhola.Em fins do século XIX, com o desenvolvimento da tecnologia naval, milhares de pessoas saíram da Europa em busca de melhores condições de vida nas Américas. No caso da Espanha, a imensa maioria rumava para suas colônias ou ex-colônias, pelos laços históricos e culturais que mantinham e, por esse fato, os destinos preferidos dos imigrantes espanhóis eram a Argentina e Cuba. Entre 1882 e 1930, 3 297 312 espanhóis emigraram, dos quais 1 593 622 para a Argentina e 1 118 968 para Cuba. Para o Brasil imigraram 567.176 espanhóis no mesmo período.Na virada do século XIX para o XX, os espanhóis, como todos os imigrantes que chegavam ao porto do Rio de Janeiro, eram registrados pela Agência Central de Imigração e encaminhados para a hospedaria da Ilha das Flores, com o objetivo de se restabelecerem da longa travessia do Atlântico.Os “braceros”, como eram chamados, se fixaram principalmente nas áreas centrais da cidade, incluindo a zona portuária. Disputavam ofertas de empregos menos qualificados e espaços de moradia disponíveis com os segmentos mais pobres da população local, sobretudo mestiços e negros. Encontravam trabalho como estivadores, ensacadores de café, em bares, pensões ou comércio ambulante. A expressão “galego” servia para se referir a pessoas vindas da Península Ibérica, tanto de Portugal como da Espanha.Movimento operárioOs espanhóis eram, em geral, mal remunerados, com jornadas de trabalho de até 16 horas. Moravam em habitações coletivas – os populares cortiços – que escaparam da demolição com o plano de remodelação e saneamento da cidade.Conseguiam algum auxílio médico, financeiro e jurídico junto às Caixas de Socorro Mútuo, entidades particulares mantidas por imigrantes mais prósperos, que, provavelmente, deram origem às primeiras organizações de trabalhadores. O imigrante espanhol teve ativa participação no movimento operário dos maiores centros urbanos brasileiros, sendo rotulado de anarquista, no início do século XX. Eles se reuniam em associações, como o Centro Cosmopolita (setor de hotelaria) ou a União dos Empregados de Padaria.No entanto, é certo também que parte da comunidade não queria se envolver com questões políticas. A organização se baseava em laços de parentesco. Os primeiros empregos eram indicações de patrícios e, quando o imigrante melhorava suas economias, comprava um pequeno negócio, contratando, por sua vez, conterrâneos.Muitos deles eram comerciários e garçons. Em geral, quem conseguia prosperar economicamente não queria confusão. As manifestações em busca de melhores condições de trabalho eram duramente reprimidas pela polícia.Mas havia aqueles que se tornavam líderes sindicais, ativistas anarquistas e assalariados que se uniam às associações de sua classe para melhorar as próprias condições de vida. Tanto foi assim que o Centro Galego, um local de reunião e confraternização, situado na Rua da Constituição, cedeu suas instalações para celebrar o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, em 1906, reunindo, pela primeira vez, trabalhadores de todo o Brasil.
Na greve geral de 1917, diversos espanhóis do setor mais importante do operariado carioca – o têxtil –estiveram envolvidos. Em uma fábrica de tecido, no bairro da Gávea, foram presos 78 anarquistas, entre eles vários espanhóis, suspeitos de utilizarem bombas e armas nas manifestações.Nas greves que aconteceram no Rio em 1920, os trabalhadores reivindicavam melhores condições de trabalho. Era o caso dos cozinheiros do Centro Cosmopolita em 1912, que queriam a redução da jornada de trabalho para 12 horas e o descanso semanal.No início do século XX, pertencer a determinados sindicatos era um “convite” para regressar ao país de origem. Foi em grande parte graças à coragem e às ideias trazidas ao Brasil pelos imigrantes galegos que a jornada do trabalhador brasileiro tornou-se menos árdua.O fato é que a comunidade espanhola seguiu vivendo no Rio de Janeiro e sua contribuição cultural permanece aqui no século XXI. De acordo com Mônica Mosquera, diretora da Casa de España, hoje são 6 mil espanhóis vivendo no Rio de Janeiro (dados do Consulado Espanhol), e a maioria deles se dedica ao comércio.Texto: Larissa Altoé/Multirio e WikipediaLeia mais:
-
TURISMO QUE PODEM TE INTERESSAR
Edifício Monte: um tesouro Art Déco de 1929 que encanta em Laranjeiras
Saiba Mais Inaugurado em 1872, Canal Campos-Macaé é o segundo canal artificial mais longo do mundo
Saiba Mais O tesouro escondido de Angra dos Reis: a busca pelo meteorito perdido
Saiba Mais
-
COMENTE AQUI
O QUE ANDAM FALANDO DISSO:
- Seja o primeiro a comentar este post
-