Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índios tamoios, foram poucos portugueses. Em 1603, Antônio Pacheco Calheiros (1569 -1634), obteve enfiteuse, processo através do qual adquiria o direito real sobre terras que iam do engenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a “costa brava” (Leblon), passando pela Gávea (Vidigal).
Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa Domingas Mendes obtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes dava o aforamento de “300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse”. Eram todos os terrenos de marinha do Leme ao atual Leblon, incluindo-se aí, é claro, a futura Ipanema.
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá, Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), para benefício do engenho que este possuía na Lagoa. Esse engenho, denominado de “Nossa Senhora das Cabeças”, não foi adiante, haja vista que Martim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de “Guaraguassú Mirim” (atual Barra da Tijuca).
O aforamento então foi sendo repassado até que em 1619 chegou às mãos do dono do “Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa”, Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinha mais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração de madeiras para seu engenho.
Varela ficou assim, aos poucos, dono de todas as terras que iam do Humaitá ao Leblon. A extensão de suas posses abrangia 1700 braças de testada e 4.500.000 braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas.
Os terrenos pagavam foro de 6$400 réis ao “Senado da Câmara”. Esse latifundiário criava gado nessas praias e suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.
Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulheres casavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com Rodrigo de Freitas de Carvalho, de dezesseis anos, português oficial de cavalaria.
Alguns anos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal e lá morreu em 1748. Sua enorme fazenda, que englobava a Lagoa que acabou por herdar-lhe o nome (e, igualmente, eternizar na topografia carioca o “golpista do baú” mais bem sucedido em nossa cidade...), foi arrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX.
*Milton Teixeira, historiador e pesquisador