Em tempos que uma viagem à Europa podia demorar um mês, a instalação de um cabo de telégrafo submarino revolucionou as comunicações com o velho continente. Por iniciativa de Dom Pedro II, ele chegou ao Brasil em 1873 graças a uma concessão de 20 anos ao Barão de Mauá para lançar cabos submarinos e explorar a telegrafia elétrica entre o Brasil e a Europa.
O encaminhamento técnico da obra foi realizado por Guilherme Schüch de Capanema, diretor geral dos Telégrafos.
O lançamento do primeiro cabo submarino no Brasil envolveu negociações entre o imperador Dom Pedro II, os reis de Portugal e da Itália, o presidente do Haiti e o Barão de Mauá.
No Natal de 1873, o cabo chegava ao Rio no navio Hopper, na praia de Copacabana, na altura da Francisco Otaviano, num casarão onde foi construída a base do equipamento (foto). Ele foi recebido pelo imperador e sua comitiva. Nesse dia, por seus serviços prestados, o Barão de Mauá foi elevado a Visconde.
Pedro II saudou, via telégrafo, esse "tão fausto acontecimento, trazendo a todos os brasileiros prosperidade à majestosa Pátria".
No mesmo dia, os primeiros sinais foram transmitidos para a Bahia. Seis meses depois, o Brasil fazia a primeira ligação para a Europa. Tratava-se de uma mensagem do imperador para a rainha Vitória e ao rei Dom Luís, de Portugal.
O telégrafo transformou a forma de comunicar e informar, acelerou o tempo vivido, apressou a circulação das notícias e, principalmente, mudou o modo de descrever os acontecimentos.
Com o telégrafo, a notícia rápida e em tempo real.
No entanto, internamente, o Rio já possuía um telégrafo elétrico, concluído em 1852, que ligava a Quinta Imperial ao Quartel General do Exército a fim de expedir ordens rápidas para a repressão ao tráfico de escravos.
Sua construção utilizou materiais e aparelhos adquiridos em Londres e formas compulsórias de trabalho, lançando mão dos presos da Casa de Correção.
Portanto, as primeiras iniciativas para a instalação do telégrafo elétrico no Brasil surgiriam da associação entre a curiosidade de alguns poucos engenheiros e professores das Academias da Corte e as necessidades do governo imperial em agilizar o controle sobre o desembarque de escravos, que acontecia sem maiores atropelos até mesmo nas vizinhanças da Corte.
Durante os primeiros anos, o destino e a aplicação do telégrafo elétrico foi exclusivo do serviço de polícia da Corte, encarregado de analisar os lugares convenientes para a instalação de estações, bem como os locais onde "será colocada a administração do Telégrafo, e a força pública com o duplicado fim de prestar-se à guarnição da estação e serviço de polícia nesses lugares".
Em seus primeiros passos, portanto, coube ao telégrafo uma função auxiliar ao serviço de policiamento da Corte, interligando através de suas linhas e estações, a Central de Polícia e todos os quartéis, arsenais da Guerra e Marinha, além do Paço da Cidade e os palácios de São Cristóvão e Petrópolis.
Somente cinco anos depois de instalada essa primeira linha o serviço telegráfico seria franqueado a particulares — com a regulamentação do serviço de telegramas pagos —, tendo início a exploração comercial do telégrafo no Brasil.
Por mais uma década ainda a comunicação telegráfica não mereceria a confiança dos habitantes da Corte, que mantiveram inalterado o hábito secular de remeter os recados através de mensageiros.
Vítima de preconceitos e reclamações sobre sua ineficiência e até de descrença sobre a possibilidade de trocar mensagens através de um fio eletrificado, o telégrafo não passaria, para muitos, de truque, ilusionismo e efeito de mágica.
Estas desconfianças justificariam o pequeno volume de correspondência telegráfica, chegando a ameaçar o fechamento de algumas estações telegráficas.
A utilidade do telégrafo só seria comprovada no "teatro da guerra" com o Paraguai, onde as linhas telegráficas montadas para a campanha mostrar-se-iam eficientes para orientar o rápido avanço das tropas e para a redefinição das estratégias militares.
Aqui, ao contrário do que ocorreu na Europa, foi a experiência extrema da guerra que tornou evidente a necessidade de comunicações ágeis para a administração do território. A experiência da guerra evidenciou a precariedade das comunicações com o centro-sul do país, a fragilidade da defesa das fronteiras imperiais e, principalmente, quanto o telégrafo poderia auxiliar na solução desses problemas.
A conquista da "telegrafia transatlântica" através de cabo submarino uniu, em 1866, os EUA à Europa e permitiu que o velho e o novo mundo pudessem conversar, ainda que separados pela imensidão do oceano.
No Brasil, esse acontecimento foi apresentado como uma possibilidade para a sua emancipação política e econômica, na medida em que o telégrafo poderia torná-lo "vizinho da Europa", modificando todas as suas relações com o exterior, além de favorecer a "direta comunicação" do governo com seus auxiliares e dos produtores com os consumidores, auxiliando eficazmente o desenvolvimento do país.
Decorridos pouco mais de dez anos da introdução do telégrafo elétrico no Brasil, cujas linhas estendiam-se pouco além dos arredores da Corte, já se sonhava com a comunicação rápida e direta entre as províncias brasileiras e destas com a Europa e a América.
Fonte: Museu Imperial
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