Na primeira metade do século XIX, foram os estrangeiros que iniciaram uma nova mentalidade residencial no Rio de Janeiro. Deslumbrados com a exuberância e o colorido da natureza tropical, procuraram praias e montanhas, até então completamente desprezadas e desabitadas.
Com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808, a cidade acolheu milhares de europeus, sobretudo com a chegada das missões diplomáticas e científicas. Os ingleses, e logo depois os franceses, ocuparam a cidade em maior número atraídos pelas regalias aduaneiras e fiscais que eram oferecidas ao comércio.
O corpo diplomático e os ingleses deram início à formação dos bairros residenciais da Zona Sul, construindo casas em Santa Teresa, Flamengo e sobretudo Botafogo que eram até então rústicas aldeias de pescadores ou florestas.
Até então, ninguém se interessava em edificar uma casa à beira mar ou nas montanhas. E muito menos a inaugurar hotéis nestes lugares.
Os ingleses eram conhecidos, assim como os franceses, pelo gosto de desbravar recantos pitorescos para morar.
Os nobres franceses ocuparam a Floresta da Tijuca. Como não tinham o compromisso de ir à cidade diariamente, se instalaram em sítios e fazendas nas florestas, onde geralmente se dedicavam ao cultivo do café. Assim, os Taunay se estabeleceram na Cascatinha, que ainda conserva o seu nome; ao lado deles foram morar o Conde de Gestas e sua tia, a Condessa de Roquefeuil, além do príncipe Scey-Mont Aliard, a baronesa de Rouan e muitos outros.
A fidalguia portuguesa, por sua vez, inaugurou as vias de expansão urbana para a Zona Norte. Principalmente porque era mais perto da Corte. Edificaram assim as suas casas ao longo do aterrado que deu origem à chamada Cidade Nova e posteriormente para o Estácio, Catumbi, Gamboa e Rio Comprido.
Consta ainda que Dom Pedro I também tinha o hábito de desbravar novos lugares na cidade. Teria sido inclusive ele que descobriu o caminho do Corcovado, cabendo-lhe a façanha de ter sido o primeiro homem branco a atingir o seu cume.
A partir dessa proeza, a excursão ao alto do Corcovado passou a constituir o passeio predileto dos estrangeiros ou visitantes do Rio.
Dessa maneira, a expansão geral urbana foi, aos poucos, obrigando à abertura, ou melhoria de caminhos e estradas que deram origem às “freguesias de fora”, transformadas em bairros residenciais mais aprazíveis e saudáveis.
Preferido por estrangeiros, o bairro de Santa Teresa foi o primeiro a receber um transporte mecânico na cidade. Não foi a toa que foi construído em 1877 um plano inclinado a vapor de 513 metros ligando a Rua do Riachuelo, da Ladeira do Castro até o Largo do Guimarães.
A elite carioca escolheu o bairro para fugir da insalubridade e das epidemias que eram registradas no Centro. Daí construiu palácios e casarões de inspiração francesa que até hoje encantam.
Por ter moradores de várias nacionalidades, era apontado como o mais cosmopolita do Rio, curiosamente situação mantida até hoje pela grande quantidade de “gringos” que lá residem.
Fonte: Livro Rio de Janeiro em Seus 400 anos
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